O homem do azul do deserto
Você seria capaz de imaginar Angela Davis sentada numa mesa de bar perguntando como é que se diz ketchup em português? Antes de ler essa reunião de crônicas de Cidinha da Silva eu também não seria! Agora, vira e mexe a imagem me vem à cabeça, fico rindo, todo bobo, imaginando a cena, o papo, o encontro.
Uma das virtudes da autora nas crônicas que vêm a seguir é essa: criar uma série de imagens surpreendentes colhidas no dia a dia, cheias de humor, ironia, raiva e empatia. Entre passarinhos e motoboys, o padre pop e uma velhinha tarada, Luiz Melodia e os Tuaregs, parece que nada escapa ao olhar de Cidinha.
Além de refletir muito sobre cinema, música, literatura, em O Homem Azul do Deserto a autora transita e nos conta de vários brasis, sempre ligados pela diáspora brasileira, revelando o belo contido nessas histórias, sem nunca deixar de falar também do absurdo que envolve a vida da população negra no país. Desde os casos mais extremos, como os assassinatos de Cláudia da Silva Ferreira e Marielle Franco, até a situação em que um mediador tenta roubar a cena de uma escritora negra em uma mesa literária. No livro de Cidinha o racismo estrutural, assim como o machismo, apresentados da maneira que for, não têm um minuto de sossego.
Mais do que poder de resistência, o trabalho de Cidinha da Silva é carregado de um poder de existência. Através da palavra, a autora busca não apenas denunciar, mas também encontrar novas possibilidades e construir novos caminhos e horizontes.
Geovani Martins, escritor.
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Língua/idioma: Bilíngue PT/CN