Este livro de artista surgiu quando me deparei com o Livro de Raymond Queneau chamado Ejercícios del Estilo. Neste livro Queneau, escreve a mesma história 99 vezes de formas variadas, mas sempre é a mesma história, o mesmo acontecimento, que se repete e se repete. Mas a forma de escrever muda a cada vez, e assim parece que nos aproximamos de maneira diferente do texto. O livro é um exercício irônico sobre a forma de escrever e os caminhos que podem surgir em busca de um estilo poético. Destas 99 possibilidades, escolhi uma com a intenção de fazer o meu exercício de escrita, o centésimo. O texto TORPE foi escolhido, porque o autor do evento se dizia desajeitado para a escrita, assim como eu me sinto às vezes, com vícios, equívocos, repetições…
A partir desta escolha, comecei a escrever, usando o texto de Queneau como base, enxertei nele fragmentos de textos de outros autores, escritos meus que havia feito em outra ocasião e fiz os enlaces textuais necessários entre o texto base e os fragmentos de textos dos quais me apropriei. E assim a minha escrita foi construída, com a minha voz e a de outros, tecendo o texto, criando história, pensando espaços e fazeres.
O evento contado por Quenau neste texto, acontece durante um percurso de ônibus urbano, no qual um dos passageiros, o jovem de pescoço cumprido, se comporta de maneira torpe, ou seja, cria uma discussão dentro do coletivo. E eu me coloco como a se lá estivesse observando a confusão, a cena da discussão. Entre observar e me perder em pensamentos, me aproprio da história e a reconto, usando a montagem como um método para me auxiliar nesta trajetória, na mescla de pensamentos meus e de outros, misturando saberes, costurando assuntos dispares e tensões. A vocês uma boa viagem!